16.10.08

Coisas antigas, pra não esquecer

Antes que o Alzaimer cheque e me leve as lembranças e os papais se rasguem ou fiquem esquecidos num fundo de gaveta, vou registrar aqui emoções passadas. Literatura pobre, emoções intensas de dores e alegrias. Minhas!!!

MENINO

Ao te ver assim correndo livre,
Pernas, peito, braços fortes,
A morenisse suada do seu corpo
Refletindo o sol da tarde.

Dá pra ver o azul do céu a se a misturar
Ao marrom chocolate da sua pele.
Essa visão enche meu corpo de desejo
E minha alma de alegria,
Numa necessidade de te amar primeiro.
Ver nos teus olhos de esmeraldas
A luz da vida iluminar-me por inteiro.
Colher dos teus lábios cheios e macios
Beijos de amor e mil caricias.

Dar-te meu amor tão puro e cristalino
E encontrar a plenitude do amor
No teu sorriso de menino.


QUERIA

Queria ser poeta
Para saber misturar
O sal do suor
Com o brilho do olhar
E transformar com coragem
O desejo vazio
Deste selvagem cio
Em flores que beijam o rio
E que com as águas se deixem levar.

Eu queria ser poeta
Para poder combinar
A agonia do inferno
Com sua maneira de andar
E transformar com ousadia
As dores desses meus dias
Em plumas que com o vento se deixam levar.

VIDA E MORTE

É Esse amor é o que me mantém úmida
É Essa umidade me faz fecunda
Que mantém ardente a origem
E projeta a vida no futuro.

É esse amor o que me volatiliza
O que me torna fluida
O que me faz deslizar por sobre a vida

O que me faz deslizar por sobre a vida, até.
O ultimo sopro, até.
A última luz, até.
A ultima gota, até.
A última flor, até.
O ultimo cio, até.
O ultimo gesto, até.
A primeira lágrima da razão

Essa razão é o que me torna árida
E essa aridez me faz estéril
Aniquila a semente
E planifica a vida no presente

É essa razão o que me solidifica
O que me torna estável
O que me faz rastejar dentro da vida.

O que me faz rastejar dentro da vida até
O ultimo sopro,
A ultima gota,
O ultimo gesto
Até...


MALDIÇÃO
Malditos sejam seus olhos
Malditas sejam suas mãos
Maldito seja seu corpo
Maldito seja seu sexo
Maldito seja você
Amém!



UMA HISTORIA DE AMOR

Um Olhar Ao Acaso
Só Olhos E Boca
Palavras Poucas

A Pele
O Corpo
O Suor
O Olhar
A Cor
O Sorriso A Boca

O Coração Acelera
A Pele Arrepia
O Desejo
O Cio

O Toque Suave
O Amor
O Beijo
A Música
O Medo

Olhos Na Alma
Alma Escorrendo Pelo Corpo
Dedos Trêmulos
Músculos Frouxos

O Beijo Molhado
De Boca Inteira
Chocolate
Morango
Pêra Madura
O Cheiro
A Saliva

O Toque Suave
O Desejo Cresce
A Pele Arrepia
A Ousadia
O Olimpo
A Ventania
O Cavalo Alado
Lilás
Maravilha



AGORA FICA ASSIM

Depois de tantos caminhos percorridos
Agora fica assim
Você é o lugar bom em mim

Com você conheci o céu e seus prazeres
Teus olhos, teus gestos teu sorriso, teu cheiro.
Tudo o que te habita é belo, é mágico.
Transcende as fronteiras da realidade.

Por você percorri todos meus infernos
Desertos, pântanos, florestas sombrias.
Agora sei que meu caminhar é continuo
Mas quando eu vislumbrar o céu e o mar
A se confundirem na linha do horizonte
Estarão presentes em mim as marcas do meu tempo
E ostentarei então delicadas tatuagens sobre a língua.

Porem, agora fica assim:
Você é o lugar bom em mim.




VOCÊ

Você que homogeneizou em mim os prazeres do céu e as dores do inferno,
Fundindo a treva e a luz nesta tonalidade tonta de eternas auroras.

Você que me deu de beber desse coquetel alucinante onde o néctar dos deuses
Se misturou ao fel dos demônios, e me permitiu apenas as sensações mornas.

Você que habita o mar e navega nas estrelas, que me enclausura.
Nas cavernas da montanha e mesmo assim me chama.

Você que me morde e lambe, que me fere e cura, Que me ressuscita.
Só pra me matar de amor.




CAPITULO FINAL

Uma praia deserta ao entardecer de verão, ele vem saindo do mar, caminhando com seus passos pesados sobre a areia quente, cansado se estendo ao meu lado, calado. Deixo-o relaxar e começo dizendo o quanto gostaria que o tempo parasse qdo estou do seu lado. Digo que gostaria que ele entendesse que o nosso caso tinha tudo para ser uma coisa bonita, tão bonita como o reflexo do sol no mar naquela tarde. Ele escuta, e como sempre não fala, apenas olha o mar, e lentamente se vira e me olha, me olha e me desconserta com aquele olhar de infinito que a tudo abrange. Desvio meus olhos pra não me perder de novo no abismo da paixão passada e conservar a razão. Então divago em teorias que ele não entende, pensando que posso faze-lo entender que o meu amor é tudo o que eu tenho de belo. Pergunto inutilmente se as angustias destes anos todos o marcaram e se ele sofreu? – ele me responde indolente que não houve angustias, não houve dor. Bem sei que não é verdade, mas que importa a agora a verdade se tudo acabou?
Acabou! Acabou o sonho, a ilusão, a doçura, fica apenas um vazio, e esse medo do nada. Levanto-me em silêncio e deixo-o com sua calma eterna a olhar o mar, e mais uma vez me pergunto: em que estará pensando? Caminho vagarosamente na esperança última de que ele me chame e me diga que tudo em volta não importa, que podemos ser felizes mesmo com todos os preconceitos que nos cerca, mas ouço apenas o barulho das ondas a se desmancharem na areia. Olho mais uma vez em sua direção, ele continua lá, imóvel como uma estátua de um deus, esculpida em bronze. Continuo a caminhar em direção a minha vida e da realidade, consciente de que o maior dos meus sonhos ficou ali na areia, ou foi-se com o mar, ou o sol o levou consigo pra complementar seu calor.
Uma coisa apenas será pra sempre um mistério para mim: eu jamais saberei o que foi para ele esse amor. Talvez para ele o primeiro, mas pra mim com certeza o último.


PARA NÃO TER SAUDADES

Queria guardar na boca
O gosto suave do teu hálito,
O gosto do vinho e do afeto

Queria guardar pra sempre na memória
O perfil nítido do teu rosto
Como o perfil sereno e azul da serra de Itatiaia.

AMIGO

Meu amigo que me dá colo
Que me acaricia com os olhos
Que supera o medo e mergulha
No escuro e na luz de mim,
E me ama assim, com amor de criança.

Meu amigo que me dá a mão
E sem saber me guia
Transformando minhas perguntas
Em emoções mais sólidas.

Meu amigo, eu te abraço,
E te aconchego ao meu peito nu
E te devolvo a ti
Inteiro como me veio
Mas também amado.

NÓS

Na mistura do eterno éter
Que ocupa o espaço
E preenche as lacunas
Nós nos damos
Nós nos damos e não nos temos
E tememos os tolos danos que nos causamos
Nos afastamos
Nos enganamos
Mas nos queremos
Assim confusos
Assim difusos
Assim serenos

SOLIDÃO

Repenso e revejo os corpos e bocas
Nos rostos que não voltam mais
A solidão usa a mascara da noite e me assusta
Mas se repete infinitamente
E se esconde no meu rosto
Procuro as lacunas, com desespero de quem morre.
Enfim encontro fragmentos dessa solidão
Tão antiga, já cativa,
Quase amiga.

MEDO

Agora de novo o medo
Um medo maior que o medo primeiro
Um medo puro de me perder nesse encantamento.

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